Brasília (AE) - Menos de 24 horas depois de ter sido indicado e anunciado como o escolhido para o Ministério da Saúde da presidenta eleita, Dilma Rousseff, o médico ortopedista Sérgio Côrtes viu seu nome revogado do cargo em meio a uma crise política envolvendo o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), e a bancada peemedebista na Câmara. Cabral era o padrinho da indicação, que não foi acatada nem pelo vice de Dilma, o deputado Michel Temer (PMDB-SP), nem pela bancada.Dilma ficou irritada com que chamou de “precipitação” no anúncio de nomes do ministério. Em reunião realizada hoje com médicos, no Centro Cultural Banco do Brasil - sede da equipe de transição -, Dilma afirmou que os nomes para essa área ainda não foram definidos. “Eu queria deixar claro para vocês que ainda não escolhi o meu ministro da Saúde”, disse ela, diante de uma plateia formada por nomes de peso, como o cardiologista Adib Jatene. “Ainda não escolhi meu ministro. Mas ele honrará a tradição de Temporão e Adib Jatene”, acrescentou Dilma.“O anúncio precipitado do nome de Côrtes fez com que ele provavelmente tenha dormido ministro e acordado sem a pasta”, resumiu o deputado Rocha Loures (PR). Em reunião da bancada do PMDB, as lideranças do partido na Câmara bateram o martelo e rejeitaram apoiar o nome de Côrtes, atual secretário de Saúde do Rio de Janeiro, para o ministério de Dilma. Se a presidenta quiser ficar com Côrtes, terá de contabilizá-lo no ministério como nome da “cota pessoal”.Foi o próprio Cabral quem, no Rio, anunciou formalmente a suposta escolha de Sérgio Côrtes para a cadeira hoje ocupada por José Gomes Temporão na Saúde. “Foi feito o convite por mim, em nome da presidenta, e ele aceitou”, disse o governador na tarde de terça-feira, no Rio. O governador se reuniu com Dilma na segunda-feira à noite, na Granja do Torto. Na ocasião, ela disse a Cabral que a indicação de Côrtes precisaria passar pelo crivo do PMDB na Câmara e no Senado.Em conversas reservadas, integrantes da equipe de transição disseram que Cabral quis “criar um fato consumado” e acabou causando desconforto político na aliança governista. Temer também não escondeu a contrariedade com o anúncio de Côrtes porque sequer participou da reunião entre Dilma e Cabral. Além disso, a cúpula do PT descobriu que há uma penca de denúncias contra o secretário de Saúde fluminense.Na Assembleia Legislativa do Rio, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) pediu a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar suspeita de corrupção na Saúde, como superfaturamento na compra de equipamentos e em contratos de manutenção de serviços terceirizados. Na justificativa para o pedido de CPI, Freixo disse que há “indícios graves de irregularidades no processo de licitação”.
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